“Nem uma conta sabem fazer”

Andei na escola, até à quarta classe, no Piódão. A gente, no primeiro dia, ainda não estava habituada, custava mais, mas depois habituava-se. Aprendíamos melhor que aprendem agora. As professoras exigiam mais. Puxavam mais pelos alunos, faziam mais para os ensinar que se calhar agora fazem. Quando eu andei na quarta classe, acabava o tempo de estar nas aulas e ainda vinha para o pé da casa da professora. Ela ainda nos ensinava lá mais. Agora, não é exigente. Alguns nem uma conta sabem fazer. Antigamente, se não aprendiam, levavam. Dizem que as professoras, ao primeiro, não batiam... Ai não!

Já lá vai há tantos anos... Já não me lembro muito bem, mas mesmo contas e tudo, hoje ainda sei fazer bem.

Havia livros, cadernos e umas pedras, umas lousas, que tinham uns caixilhos, onde a gente escrevia com lápis de pedra. Bem bons! Havia umas canetas de tinta permanente. A gente tinha um tinteiro, depois enchia-as e escrevia com elas.

Na escola, tinha que estudar e aprender, mas tinha os recreios para brincar. Faziam jogos e entretinham-se lá nas brincadeiras que haviam nesse tempo. Também era pouco tempo. Jogavam à malha, ao finto, à nexa - como chamavam - e a muitos que já nem me lembro. Já vai tanto ano... No jogo do finto, punham uma pedra de um lado, outra do outro. Depois atiravam com uma para fincarem a outra. Às vezes ainda jogava.

Quando saía da escola, muitos dias, quando era no Verão, ainda tinha que ir onde a minha mãe andava, para lhe ir ajudar a fazer o trabalho. Nos campos, a guardar as cabras e, às vezes, ainda ia com ela ao mato e à lenha. Tinha que fazer os deveres da escola à noite, à luz de candeeiro a petróleo.