Cara escura do petróleo

No fim da escola, à tarde, havia necessidade de ajudar os pais a guardar as cabras, que eles tinham rebanho. Tínhamos algumas tarefas que os pais nos incumbiam de fazer, mas não tarefas muito pesadas. E nós, principalmente, no Verão ou na Primavera, quando os dias já eram maiores, saíamos às quatro. Ainda íamos duas, três horas ajudar a guardar as cabras que os pais andavam a amanhar a fazenda, nos trabalhos mais duros. E nós como ainda éramos crianças, muitas vezes, se tínhamos possibilidade, e se o tempo permitisse, as cabras andavam a pastar, sentávamo-nos, e com a mochila ali ao pé ainda íamos aproveitando para fazer alguns trabalhos da escola.Também ia apanhar umas pinhas debaixo dos pinheiros para fazer de acendalha, para acender a lareira. Muitas vezes, quando era dia de folga, que não havia escola, ou nas férias, íamos com os pais cortar mato para a cama dos animais e para eles comerem. Enquanto o pai e a mãe traziam um molho grande, nós trazíamos um pequenino. Pegava num cordão, atava:

-“Bem vocês trazem isto para se irem habituando”.

Era assim. Já fazíamos alguns trabalhos no campo. Por isso, normalmente, os trabalhos de casa que se traziam da escola era à noite que se fazia. Na sala, em cima da mesa, sentado numa cadeira ou num banco, à luz do candeeiro a petróleo. Ali o candeeiro a queimar o petróleo, e depois nós ficávamos com a cara toda escura. O petróleo deita muito fumo negro e até, muitas vezes, a respiração da casa não era a melhor, porque no Inverno tinha de se ter a porta fechada para não entrar o frio. Aquilo era complicado.