O regresso às origens 20 anos depois

Sinceramente, acho que quando saí daqui depois até me esqueci disto. Embora me lembrasse do Piódão e tivesse cá os meus pais (e ia vê-los quando lá iam a casa dos meus irmãos) não era complicado. Só que depois os meus irmãos foram todos criados numa zona. Ou seja, o mais velho casou-se, foi para o Alto de Moinho (faz parte ali entre o Seixal e Almada). Depois os outros, conforme casavam, saíam. Foram todos viver para lá para um andar, uma vivenda, e foram lá todos criados. Eu, nessa altura, parece-me que trabalhava ali no Calvário (ao pé de Alcântara). Só que eu não encarava bem aquele lado, não gostava daquilo. Agora é uma cidade, mas na altura aquilo era muita morto. Ainda fui um ano para lá e depois para o Barreiro. Era miúdo. Andei à minha vontade! Apareceu o 25 de Abril. Ora não havia ordem, não havia lei, não havia nada, um tipo ia por aí fora. Vive-se.

Mas eu sempre tive a ideia onde andasse que era no Piódão que eu vinha parar. Estava naquela mesmo de vir para aqui, porque sempre vivi na cidade e nunca gostei. Gostava sempre mais dos arredores ou da província. E província por província, é a minha terra! Embora tivesse uma fase talvez com 7, 8, 9, ou 10 anos sem nunca vir ao Piódão, onde estava dizia sempre:

- Qualquer dia vou para a minha terra. Qualquer dia vou para a minha terra.

Fez-me voltar aquela: “Se és bom, regressa que estás cá!”. Pronto, e para cá vim em Fevereiro de 1987. Ou seja, enquanto a maioria das pessoas quer formar primeiro uma vida até aos 20 anos, casar, ter filhos, carro, casa e não sei que mais, para depois, aos 60, andarem aí todos coisos a pensar “Posso ir? Ou não vou?”, eu não. Fiz ao contrário: enquanto era novo gozei, passeei pelo menos, e agora é que venho para ficar! Acho que é bonito assim.