“As brincadeiras eram as novidades da época”

Quando era pequeno aquilo não se dizia que eram brincadeiras. Sei lá, era brutalidade mesmo! Eu lembro-me, por exemplo, que a gente para jogar à bola lá na escola, no coberto, o guarda-redes não tinha baliza. Um tipo mandava um chuto na bola, tinha que andar meio dia à procura dela! Depois, por rio a peito - a gente chama barroco ao ribeiro - havia as trutas, as enguias. Havia depois as épocas dos melros. Então, gente armava aí para os melros. Pronto, as brincadeiras eram aquelas coisas, as novidades da época. Acho que ainda hoje, quando é praia, vão para a praia. A gente tinha a neve, íamos para neve. Agora a neve, coitada, já não aparece aí.

Os brinquedos era o que havia aí, porque não havia dinheiro talvez para esse luxo de comprar nem para essas coisas. Havia aí as brincadeiras tradicionais. Chamavam-lhe o chincão ou não sei o quê: um tipo metia-se ali encostado uns aos outros, saltávamos para cima, truca, depois outro, depois outro... Pronto, eram brincadeiras da época e de não haver outras. Nós aqui também nunca podíamos acompanhar o que é uma brincadeira actual. Hoje em dia, se é novidade um DVD ou televisão, lá vão eles comprar. Aqui era sempre complicado, porque um tipo nem tinha dinheiro para isso, nem sabia o que é que saía.

Depois, embora seja um trabalho que não era assim muito pesado, a gente saía da escola, íamos buscar uma correia de lenha, uma saca de pinhas, ia-se deitar aí cabras e por aí fora. Não era andar aí a acartar baldes de pedra e massa, mas era trabalhar.