“Não se chama Piódão porque é «pior do mundo»”

Não sei porquê que meteram o nome de Piódão à aldeia. Há tipos que dizem que é palavra moura, como moinho e não sei quê. Mas, quando os Mouros vieram, já havia pessoas neste lugar. Uma coisa que é muito importante e que pouca gente de certeza sabe é que o homem veio para aqui e a única coisa que talvez tivesse era o que colhia, o que apanhava. Depois esses povos já grandes junto a esta baixa do rio, Avô, Ponte, Côja e por aí fora, formaram-se onde havia casas senhoriais que já tinham sido do senhor cavaleiro não sei de quantos. Cresceu tudo assim, porque eram, sei lá, tropa desses cavaleiros. Portanto, estamos a falar em 1000, talvez 1400, não sei. Depois o tal garimpeiro teve que se adaptar ao local. Portanto, os Mouros podiam-se adaptar também ao que já estava cá. Só que no tempo dos Mouros até não havia o Piódão. Podia haver vestígios de várias civilizações, mas acho que aqui até foi pouco dos Mouros. Embora passassem por aqui, eles andaram mais para o Sul. Isto era frio para eles. Agora Romanos e talvez Lusitanos, esses sim. Mas talvez ainda mais Visigodos ou coisa assim. Também andam aí vestígios deles.

O Piódão já era um sítio aí na altura de 1800. A povoação começou a crescer de baixo por aí acima. Então, nota-se logo na existência do Piódão as famílias próprias e mais poderosas, ou seja, as fundadoras do Piódão. Foi nas Casas Piódão. Eu já lá fui abaixo, onde está uma capela, e ainda vi os vestígios das casas que eram. Agora já desapareceu, mas eram coisas pequeninas. Dava-me impressão que aquilo que até era de cavalos. Talvez de animais para as cavalarias, quando iam às conquistas. Dizem que vieram cá por causa do mel, mas as pessoas habitaram foi nas quintas que tinham. Por exemplo, havia a família Santos, que ainda existe aí. Hoje eu vejo onde é que era a propriedade toda da família Santos, porque conheço isso tudo por aí abaixo e conheço também as famílias. Depois a outra ao lado era, por exemplo, da família Adrião. Mais tarde, vá lá, de 1700 até hoje, é que começou a haver mistura, a troca e não sei quantos. Mas ainda hoje se nota os traços da família tal ali. Tinha a casa de habitação e, se existem ruínas, estão lá mesmo, com a fogueira e aquelas coisas todas. Depois começou a haver pouco espaço, foram andando, andando, e nós ficámos cá altos. É onde eu gosto de estar.

Mas a aldeia não se chama Piódão porque é “pior do mundo” como se consta ou dizem. Isso não! Até é o melhor que há no mundo! Isto é Hollywood português! Porque é que chamam casaco a um casaco e ténis a uns ténis? O tipo veio para aqui, a pessoa, o criador imaginou:

- “Metemos Piódão!”

Pronto. Acho que não tem fundamento se é pior ou se Piódão é isto ou aquilo. Não sei, não interessa.