“A natureza é tão linda, mas é tão má”

Nem sei bem porque é que eu encaro aquela de um tipo ver o desenvolvimento da árvore. É a maneira de uma pessoa passar tempos. Eu também gosto, quando venho para casa, tomar banho, estar a fazer o comer e estar a ouvir música ou ver um telejornal ou uma coisa qualquer. Mas a gente tem tempo e espaço para tudo. E eu gosto de plantar castanheiros e tratar disso. Não é só castanheiros, tenho figueiras, tenho nogueiras, tenho de tudo um pouco e bastantes áreas até. Gosto de os ver crescer. Só que há aquela de um tipo chegar lá e:

- O vento partiu-me um diospireiro! Era o primeiro que estava a dar. O vento partiu-mo! Eh pá, mas será possível!? Tantos que aí há! Vai-me partir aquele que está a dar? E os outros são bravos.

É isto. É a natureza a chatear! Passou ali uma onda de vento, tipo do Minho ou quê, partiu logo! É o único. Tenho lá oito ou nove, aquele é único que dá, porque os outros são bravos, arderam-me. Agora tenho que os enxertar. Não estive para me chatear com a natureza. Então, para isso, não saio de casa. A natureza está em todo o lado! Depois está aí um homem que já me disse tantas vezes:

- “Pá, tu és um parvo! Andas aí a trabalhar, a trabalhar, a plantar castanheiros, a fazer isto e aquilo, para quê? Tu se com o dinheiro que andas aí a derreter fosses para Côja ou para Arganil, era o melhor que fazias.”

E é verdade. Porque um tipo aqui empata para nada. Um tipo planta uma árvore, vê-a crescer. É como se fosse, ver um filho a crescer, é a mesma coisa. Ir lá, tratar dela, regar, podar... Depois vem um incêndio, uma enxurrada e truca! Tau! Destrói dez, 15 anos de trabalho. Um tipo diz:

- Oh pá, realmente a natureza é um espectáculo! E é a coisa que eu mais adoro. Mas ela está sempre a estragar-me a vida!

É mesmo! A natureza é tão linda, mas é tão má! Seja para quem for. É o que nos dá tudo, mas também nos leva tudo!