A matança do porco

A matança do porco era sempre uma festa. As pessoas matavam o porco porque, tal como a gente apanha o ordenado ao fim do mês, aquilo era um bocado do orçamento deles para o ano. Então, era a tal: metiam na salmoura, numa arca com sal, e tinham o dia tal que era dedicado. Era o chispe - acho que era no dia de Carnaval ou coisa assim -, era o rabo, depois tinham o dia não sei quê... Só que havia partes da carne que ainda utilizavam para outras coisas. Por exemplo, a parte do lombo era para paios e para chouriços. As outras carnes talvez não dessem para transformar, porque tinha que ser de qualidade. Embora fossem pobres, se aquilo era para se fazer assim, eles realmente faziam bem. Depois lá vendiam um presunto ou dois para comprar o novo porco para o ano.

A matança é comunitária. Mas é uma coisa que também não mete assim muita mão-de-obra. A própria casa mantém o trabalho. Se for para fazer o enchido, a mãe e uma filha ou duas fazem. Eu faço isso também. Já tenho feito enchidos. Não fui cá criado, mas, se me der na cabeça, faço. Vi fazer uma vez ou duas, faço outra vez. Só que é uma coisa que não me diz assim muito, porque eu não gosto muito de salgados, seja chouriço, presunto.