As casas antes da primeira intervenção do Piódão

Mas depois, claro, a casa levou mais transformações. Até há uma fotografia de 1958, a preto e branco ainda, que é espectáculo! Isso até era um postal. Acho que essa fotografia nem existe já aí. É a primeira intervenção do Piódão. Começaram as casas a crescerem mais, porque antes a maioria delas era tudo só um piso. Embora nas outras povoações, mais ali para o lado de Côja, haja aí uma casa ou outra onde o homem dormia por cima e o animal vivia por baixo, aqui na serra, Piódão, Chãs d'Égua, Malhada Chã, não. Aqui nunca se usou isso. Na povoação só havia dois ou três que, já depois mais tarde, a casa estava degradada, faziam daquilo uma arrumação para animais. Porque as pessoas aqui tinham casas de abrigo para os animais. Em toda a zona onde têm terrenos de cultivo, têm uma casa, um armazém agrícola ou assim. E as casas era tudo baixo. A primeira grande intervenção nisto foi quando as pessoas foram daqui para Lisboa em série, quando acabou os rebanhos e começou então a vir dinheiro e a haver melhores condições. Os homens iam para lá, mandavam e as mulheres aqui aferrolhavam dinheiro... Lá começavam então a subir a casita. É como hoje os africanos e os asiáticos que vêm para Portugal, para Espanha, para França, é a mesma coisa. Eu, por exemplo, conheço aí famílias que hoje estão bem, têm restaurantes na Ajuda, têm não sei que mais, mas que nasceram sete ou oito numa parte de casa que só tinha uma cozinha, um quarto e uma arrumaçãozita. Há ainda casas dessas no meio da povoação, em cima ao pé da Capela de São Pedro. São pequenas. Eu tenho lá uma também.

A arquitectura das casas demonstra também que o Piódão era uma comunidade. Há casas que têm uma parede ao meio e ao lado já é de outro. Porque eram casas de família. Houve quatro famílias principais que se instalaram no Piódão. Essa família ia crescendo e, então, iam fazendo mais um anexo ou mais uma casa posterior com a mesma parede. Ainda hoje se nota, nas casas e nos sítios, que as pessoas apegavam-se mais.