“Nessa altura os remédios era muito à base de ervas”

Aqui da minha lembrança, o médico era o doutor Vasco de Campos, de Avô. Tem um filho que está lá agora que é médico também. É o doutor Manuel. Ainda há pouco tempo esteve aqui a jantar.

Tinha eu 7 anos a primeira vez que fui ao médico. Foi por causa de uma tosse que apanhei. Fui a ele. Levaram-me lá a cavalo num burro, que era aqui do pai deste rapaz da merceariazita, que se chamava o senhor José Lourenço. O meu pai pediu-lho e fui ao médico a Avô, a cavalo num macho. Naquele tempo, receitou-me umas injecções para tomar. Nós tínhamos um parente ali ao pé da Vide que sabia dar as injecções. Fui para lá estar oito dias. O meu pai foi-me lá pôr em casa desse parente. Só que eu não gostava. Estava sempre com o tino de vir para ao pé da família. No primeiro dia que fui lá, encontro umas raparigas cá da terra, oh, vim-me logo embora com elas para cima. O meu pai ia lá ter comigo, fez-me voltar para trás, tornar lá para essa terra. Lá tive eu de ir outra vez para lá.

Nessa altura, os remédios era muito à base de ervas que cá havia. Agora, também já não há aí tantas ervas como havia nesse tempo. Há aí a flor do sabugueiro que a gente usava para a gripe, para a constipação. Apanhava-se, secava-se, fazia-se aquilo com um bocado de mel e tomava-se para a gripe. Diziam que fazia bem. Havia um senhor ali naquele barroco ao pé da pousada, que tinha para lá ervas com fartura.

Quem não se curava com as ervas, morria. Eu ainda tive um tio, o irmão do meu pai, que faleceu por não chegar a tempo de ser operado ao apêndice. Era bastante novo, 20 e poucos anos. Estava doente. Foram chamar esse dito médico. Veio cá, a casa dos meus avós, e disse:

-“Se eu conseguir que ele chegue a Coimbra vivo, não morre. Se não se aguentar...”

Não se aguentou. Morreu no caminho. Parece que não, mas perde-se muito tempo. Chegou à Vide, o médico levou-o no carro dele para Coimbra. Isto segundo o que dizia o meu pai. Eu acho que tinha 1 anito ou talvez ainda nem tinha nascido. A minha irmã é que já era. Levaram-no, chegou à ponte de Avô, morreu. Foi sepultado na Vide. Tiveram que o levar numa maca às costas. Acontecia isso às pessoas nessa altura. Aí morreu também uma senhora de parto, uns anos antes. Era uma chatice. Fora disso, quando podiam, iam ao médico. Mas tinham que ir ou a Avô, Côja, Oliveira ou isso assim. Era o médico que havia. Uma vez, fui a Coimbra com uma tia minha ao médico. Uma irmã do meu pai, que morreu solteira. Ela foi ao doutor Vasco de Avô. Ao fim, ele levou-a a Coimbra e eu fui com ela.

Hoje estamos na mesma, se formos a ver bem isso. É médico de 15 dias. As doenças não escolhem o dia para se adoecer. A esse respeito, ainda hoje não estamos bem cá. Também não se justifica, que não há cá gente, mas havia de haver mais uma coisinha. O médico vem de 15 em 15 dias. Se há um problema qualquer, pega numa ambulância vai para Arganil. Chegou a Arganil, ainda não está bem, vai para Coimbra. Há uma coisa que para mim está mal nisso. Até é uma das coisas pelas quais eu não me quero mudar para cá. Nós temos casa em Coimbra. Se eu tiver um problema qualquer, a minha mulher chama um táxi ou um carro, uma ambulância, agarra-me e manda-me logo para o hospital. Se eu estiver aqui, essa ambulância leva-me a caminho de Arganil. Eles é que sabem.

Começou a vir um médico todas as semanas. Era de Arganil. Vinha de carro pela estrada de terra batida e a pé ali do Malhadinho. Veio cá um, que era o doutor Baptista de Côja. Tem andado assim. Vem de 15 em 15 dias. Não pergunto, que eu não vou lá. Felizmente não tem sido preciso. De qualquer maneira, quando preciso de ir a consultas de rotina - eu tenho problemas de coração -, vou lá a baixo.