“Sempre ali a esfarrapar botas”

Os brinquedos era a gente que fazia. Não havia nenhuns. Ia-se aí a um pinheiro, cortava-se com um serrote, fazia-se umas rodas, punha-se-lhe um pau a fazer de eixo e era o que fazia um carro para andar aí para trás e para diante. Era assim. Brinquedos, não havia cá. Não havia dinheiro para o resto, quanto mais para os brinquedos.

As brincadeiras era ao finto. Levantava-se uma pedra aqui ao alto, outra além, supomos aí a 10 metros ou a 5 metros. Daí, era com umas pedras a ver qual é que o tombava mais vezes.

A bola era de farrapos. De uma meia das senhoras é que se fazia uma bola para se jogar. Era uma meia cheia de trapos no fundo. Ia-se virando, torcia-se, atava-se com o baraço, estava a bola feita. Lá em cima, atrás da capela de São Pedro, era sempre a esfarrapar botas. Quando aparecia aí um com uma bola de borrachazita, era uma festa para cá. Um que tinha, supomos, o pai em Lisboa ou qualquer coisa, trazia-lhe uma bola dessas, era uma festa. Era assim. O entretém era esse.

A única coisa que se jogava mais, que começámos cá a jogar sempre cedo, era cartas. Novos, começava-se a jogar. De princípio, ao burro. Daí, à bisca de quatro, à sueca e tudo isso. Dominó, também ainda se jogava por aí, mas isso já era mais tarde, com mais idade. Fora disso era só as cartas. Eram os jogos que havia e antes disso era os que eu estou a dizer.