“Qualquer pessoa dava uma chouriça, um bocadinho de carne”

O Natal cá não era festejado como hoje se festeja. Não. Havia o Natal, havia aquela tradição do Menino Jesus, aquela coisa toda, mas não havia aquela festa em casa como agora. Não era nada como agora. Ia-se levar umas couves a um vizinho para cozer com um bocado de bacalhau, mas em casa, em própria casa.

Fazia-se a fogueira naquele largo onde há aquele restaurantezinho. Antes de haver este aqui, lá é que se parava. Lá é que se juntava tudo no mesmo dia de festa, é que se botavam as ofertas a lanço, se vendia, se divertiam, é que tocava a música. Tudo, era além, não era aqui. Desde que ao fim fizeram isto, é que vieram para aqui. Mas primeiro era lá adiante. Lá é que era a tradição de estarmos todos.

No Ano Novo, geralmente, a minha mãe fazia em minha casa um comer mais diferente dos outros dias. O meu pai fazia anos no dia de Janeiro, no dia de Ano Novo. Nasceu em 1907, a 1 de Janeiro. Quando era dia de Janeiras, a gente ia dar a volta às casas a tocar qualquer coisa e a pedir. Qualquer pessoa dava uma chouriça, um bocadinho de carne. Geralmente, os senhores que tinham a taberna davam um bacalhauzinho. Daí, juntávamo-nos todos e íamos cozer isso tudo numa panela e comíamos. Era dia de Janeiras e pelos Reis. Eram os dois dias. No dia de Reis também se fazia isso, mas mais importante era o dia de Janeiras.

Na Páscoa, quando éramos pequenos, havia a tradição de ir pedir o folar ao padrinho ou à madrinha, mas de resto era umas amendoazitas e era quem era. Eram os figos em Janeiro e mais nada.