“Andavam aí dois meses antes a enfeitar os andores”

Aqui a festa era de dois em dois anos. Um ano era a festa da Igreja, no outro ano faziam a do São Pedro. No ano em que não faziam a da Igreja, era a do São Pedro. Mas música, havia todos os anos. Vinha música e botava-se fogo com fartura. Agora, já não botam nada.

A missa de festa não é como agora. Agora, há missa de festa e o próprio padre vai sozinho e diz a missa. Naquele tempo, eram quatro ou cinco padres. Chamava-se a missa de pontifical. De vez em quando, vinha cá o bispo nesse dia. Não era todos os anos, mas vinha de vez em quando. Ia a música tocar lá na igreja, cantavam a missa, era assim. Havia os miúdos pequenos, que iam fazer a Primeira Comunhão e havia os da Comunhão Solene. Havia, supomos, uma missa de manhã para os que faziam a Comunhão e havia a do meio-dia que era a missa da festa.

Quando ao fim acabava a missa, saíam os andores com os santos, iam ao cemitério e voltavam para cá. Cada um ia num andor. Andavam aí dois meses antes a enfeitá-los. Ao fim daquele dia, saía tudo. Naquele tempo a procissão era bonita, porque era grande, quase que chegavam lá ao cemitério. Dali adiante de onde está a Casa do Povo, chegavam lá e voltavam sem desapegar.

No fim disto tudo iam almoçar e, ao fim, era todo o dia aí a tocar a música. Era assim a festa cá. Todas as pessoas matavam uma cabra para se comer. Todos tinham gado deles, não compravam. Agora compram um bocado. Disso, ao menos, havia fartura. Nessa altura é que a comida era boa. O que se comia era cultivado cá e sem adubos, só com os estrumes. Agora, já não é nada disso. É só adubo que se bota para aí.