“Casava-se e ao outro dia ia a caminho do trabalho”

Naquela altura, quem se não casasse pela Igreja, não era ninguém. Era até censurado. Não sei se seria bem se seria mal. Hoje em dia, já se casam só pelo Civil. Mas naquela altura, cá nesta zona, não havia casamento sem ser pela Igreja.

Não havia cá aqueles fatos compridos delas nem nada. Era um vestidozinho claro. Eu era um fato assim um bocado para o cinzento-escuro em antracite. Não fôramos para o restaurante. Foi em casa dos pais dela que se fez o casamento. Eles é que fizeram o comer. Convidava-se familiares mais chegados e pronto. Os casamentos cá eram sempre assim. Agora é que já não, já mudou tudo. Já é como para baixo para as cidades. Naquela altura, cá, o casamento era feito em casa das famílias com aquilo que tinham deles, praticamente. Quando se casavam, matava-se duas ou três cabras ou uma ovelha, faziam arroz-doce, faziam tigeladas, fazia-se pães-de-ló. É o que se hoje cá come em sobremesa, o que as pessoas gostam de comer cá. É tigelada e isso desse tempo já muito antigo. A tigelada já é muito antigo. É o doce tradicional da terra, cá da serra. Comiam. O comer era geralmente sempre isso.

Depois, não se iam passar oito, nem quinze dias aí fora. A gente casava-se e ao outro dia ia a caminho do trabalho. Não havia cá folgas. Também não era preciso.