Nem por coincidência, tornei à Figueira da Foz para o serviço militar. Foi em 1959 e 1960. Estive no quartel de Artilharia Pesada N.º 3, onde agora é a Universidade Internacional. Na Rua do Pinhal, ligada ao seminário. Pertencia à especialidade de Transmissões, na Bateria de Comando. Há Primeira Bateria, Segunda Bateria e tal. Na Infantaria é por companhias. Ali era por baterias. E fui para a Bateria de Comando, por ter a quarta classe e o segundo ano do seminário. Ainda queriam que eu fosse para primeiro-cabo. Não, não! Eu evitei o que pude. Fui logo ter com o meu patrão:
- Ó, meu capitão, veja lá se eu não vou, porque é uma chatice!
Tinha de entrar noutra recruta mais rigorosa.
- “Está descansado que tu não vais, que eu preciso cá de ti.”
E assim foi. Ele era ali de Mangualde e conhecia Arganil. Já cá tinha vindo à feira de Mont'Alto e só queria pessoal de cá. Dali, arranjáramos um alferes muito amigo dele, um rapaz de Sandomil, que é cá também da nossa zona. Pertence ali a Seia, onde passa o rio Alva. Era descansadinho. Não fazia guardas, não fazia nada. Fiz lá uma tropa que foi uma maravilha!
A minha especialidade era Transmissões. Depois, fomos para Santa Margarida fazer a especialidade de Manobras. Tinham vários quartéis. De Coimbra, de um lado e doutro. Quando fui para Santa Margarida, trazíamos naquelas maletas uma coisa como agora trazem os telemóveis. Trazíamos um aparelho assim ao lado. Quando ele tocava, tínhamos que o pôr ao ouvido. A gente tinha uma palavra secreta todas os dias. Não podia a gente dizer onde andava. Alfa isto, alfa aquilo e tal. Tínhamos que saber o alfabeto Morse. E havia os radio-telegrafistas. Esses tinham outro alfabeto especial. A nossa especialidade era guardar as pessoas. A gente andava muito mais pelos cabeços a vigiar se vinha algum inimigo ou se não. Para atacar os outros soldados, as companhias e tudo. Tínhamos que estar a vigiar. Era o nosso trabalho!
Fôramos da Figueira, passáramos em Torres Novas, “pia baixo”, passáramos o rio Tejo para o outro lado em Constância e lá íamos para Santa Margarida. Também chegámos a estar na Ponte de Sor, onde é agora lá a cordoaria. Estivéramos em Santa Margarida três semanas em manobras. Aqueles da companhia de Infantaria tinham que ir de noite, a pé, coitados, tranc, tranc, tranc... E nós íamos de carrinhos. A Artilharia não andava como eles. Coitados, até metiam dó, às vezes. Andavam lá dois rapazes: um, que está no restaurante aqui e outro é um cunhado meu. Outros dois que lá andaram, já morreram até. Eram cá também da freguesia.
Agora também não têm que ir preparados? Alguns vão para Santa Margarida e ali em Lamego há os Comandos Especiais. Também têm que ir preparadinhos quando vão lá para fora. Era ali que a gente se ia preparar se houvesse um ataque. Tinha que ser assim.