O roubo dos vasos

Pelo Santo António, ia-se a todas as casas roubar os craveiros, os manjericos e tudo, de noite. Punha-se nas fontes das praças. Havia estas coisas todas assim, agora são coisas que já não há nada. Bem eles este ano ainda tiraram ali para a fonte da praça. Iam então tirar os craveiros, os manjericos, às janelas, aos terraços, onde podiam. Acabei com os meus, porque vinham buscar tudo ainda para as fontes. Mas era bonito. Iam para a fonte da praça e punham uma carreira para um lado, outra carreira para o outeiro, outra para outro lado e ficava então um de vigia a guardar aquilo para ninguém estragar. O que é depois tínhamos nós de ir buscar. Mas eram estas tradições, era bonito. Agora já não há nada. E eu digo, tenho saudades desse tempo. O meu filho diz:

- “Oh mãe, isso já lá vai.”

Pois vai, mas são recordações que nunca acabam, porque eram muito mais. Agora já não se vê nada. É assim a vida. A gente andava por aí nos campos, cantava-se cantigas uns aos outros. Rapazes às raparigas, raparigas aos rapazes, sei lá. Agora não se vê nada. Agora está tudo mudo. Em qualquer barroca nesse tempo sabia-se bem onde andavam fulana, onde andava sicrana. Agora não. Agora não há cá nada. É triste. Muitas morreram. Outras os pais foram para outros lados, levaram-nas, lá casaram e também já não vieram. A Benfeita teve um baile no outeiro e outro no fundo, um rancho no outeiro e outro no fundo. Havia cá gente. Hoje não há nada. A gente tinha aí comércio de tudo o que havia. Tudo. Agora não há cá nada. Tudo vai acabando. As terras também está tudo de relva. O figueiral ao pé da avenida, aquilo era milho e batatas por todo o lado e está tudo de ervas. Tudo acaba.