Andei a ajudar a montar os telefones para a Malhada Chã e para a Fórnea e andei nos Serviços Florestais, a arrancar pinheiros para abrir a estrada. Mas não havia máquinas como há agora! A estrada que passa ali em redor do Monte do Colcorinho, para a Senhora das Preces foi feita ao poder de braços. O meu trabalho era arrancar “penedas”, fazer fogo com o martelo e fazer as rampas das estradas. Há rampas aí bem cortadinhas. Era eu e outros mais. Havia mais pessoas. Eu gostava de lá andar. A gente até fazia luxo naquilo. Tínhamos que ir lá ao nascer do sol. Não é como agora, às oito horas. Saía de casinha de noite e lá estávamos ao romper da manhã. Só vínhamos à noite, ao pôr-do-sol. Mais tarde, começaram as dez horas.
Muito antes do 25 de Abril, fez-se lá um levantamento de pessoal. Estivéramos um dia sem trabalhar:
- “Ou nos dão as dez horas ou nunca mais vimos fazer mais nada!”
Eles então lá cederam. Um guarda, que até já faleceu, não era assim grande prenda para o pessoal. Esse era “nhurro” que eu sei lá! O filho, que tinha estudos, é que nos fez lá o papelinho. Assináramos uma data deles. Os que podiam assinar. E lá o meteu à Direcção Florestal de Arganil. Eles concordaram e disseram: dez horas. Mesmo assim, ainda era. Mas bem, sempre autorizaram. Até que as oito horas vieram agora mais tarde.
Era onde se podia arranjar algum tostãozito: 22 escudos cada dia. Se lá não fôssemos, não ganhávamos nada. Só aí emboscados a fazer carvão por essas serras. Apanhar fumo e doenças e tudo. Lá, a fazer fogo também não era grande prenda, mas bem... Tirar aquele tufo dos buracos para fora, depois carregar... Tinha que ser assim. Não havia doutra maneira. Até que fui para a tropa.