Antes, havia aí muitos milhos. Tudo cheio! Milho com fartura! Era tão bonito aí os cômoros, os bocaditos, tudo com milho. Agora não. Agora é só giestas, silvas e pinheiros. É uma miséria. Não há pessoal...
Antes, as pessoas ajudavam-se umas às outras. Quando era no tempo da sementeira, eram várias maltas. Um dia, ajudávamos uns, depois quando a gente necessitava, ajudava-nos a nós. Era troca por troca. Só quem não podia é que pagava. Mas a paga também era barata. Não era como agora, Deus nos guarde! Era 4, 5 escudos, ou nem isso.
No tempo das colheitas, cada um arranjava a sua desfolha. Chamavam a desfolha do milho. E havia várias malhas. Contando aí mais ou menos uns seis, sete sacos já malhavam. Depois ia para os estendais, para as eiras, para secar e a seguir ia então para as arcas para guardar. Uns eram milho branco, outros eram milho amarelo. Mas quando aparecia uma espiga vermelha, aquilo era uma festa! Atiravam com elas para as raparigas e a rapariga que tivesse a espiga vermelha merecia um beijinho. Embora ela não quisesse, tinha de ser mesmo!
- “Ah! Ela tem uma espiga vermelha! Ela tem uma espiga vermelha!”
E ela, às vezes, escarvava, mas tinha que aguentar as favas. A rapaziada a beijar nela. Era vida!