A nossa professora era rija! Chamava-se Maria de Lurdes. Era ali da região de Coimbra. Com essa professora é que a gente saiu de analfabeto. Ensinava bem. Se ensinava! Ela era uma força! Não podia ser melhor! Deu um impulso aí à malta. Senão, nós éramos analfabetos. Fiz a segunda, a terceira e a quarta classes com ela. A segunda, fui fazer a Sobral. A terceira, a Pomares e a quarta, a Arganil. Daí para a frente, continuou sempre a escola. Mas primeiro, não havia nada. Alguém fazia exame da quarta classe? Antes de mim, ninguém fez. Só um rapaz que está em Lisboa. Quando eu fiz a terceira, ele fez a quarta. E quando fiz a quarta, só foi mais outro, que era irmão desse tal. Fomos os dois a Arganil fazer.
No ano seguinte, veio uma professora, que até casou cá com um rapaz do Piódão. Com essa, foram mais alunos à quarta classe. Também era rija! Boa para ensinar! Agora aquelas que vinham só um ano... No fim do ano, iam-se embora. Era só para cumprir a missão delas. Isso não dava resultado nenhum. Aquelas faziam por as pessoas aprenderem.
Para castigar tinha mão pesada. Também era preciso. Era muito preciso. Havia lá meninos mais reguilas, mas tinham que aprender. A mão dela era severa e então todos tinham de se manter. Para castigar, davam palminhas nas mãos. Se fosse preciso, um puxão nas orelhas também ia. Não é como agora. Andarem até a bater nas professoras... Nessa altura havia respeito. Ai daquele que tocasse na professora! E os nossos pais, diziam:
- “Quando o meu filho algum dia se portar mal, você dê para baixo!”
Era resposta dos pais. Agora não:
- “Não consinto que ninguém toque no meu menino... Não consinto que ninguém toque no meu filho...”
Então e vão malhar nas professoras à escola e tudo? Barbarismo! Não há educação nenhuma! Os pais ainda têm menos educação que os filhos. Primeiro, não era assim. Nunca ninguém lá partiu um osso a ninguém. A gente temia-as e fazia por aprender. Agora não, andam para ali só a caminhar uns poucos de anos. Na escola, alguns não dão nada.