As galinheiras era quem levava os ovos em cestas para a Covilhã. A mãe da minha mulher, a minha tia, ainda foi uma delas. Lá, há vários anos, havia aquelas pastelarias para fazerem a “bolaricada”. Aqui tinham rasgo, iam lá levá-los. Iam buscar os ovos ao Soito da Ruiva, ao Goulinho, Aldeia das Dez, “pia fora”. Davam a volta a estas territas a arranjar ovos. Pagavam-nos a 10 tostões. Depois, levavam daqui uma cesta cheia de ovos. Tinham de carregar aqueles pesos desgraçados para a Covilhã. A pé! Longe que eu sei lá! Gastavam um dia inteirinho. Tinham de ir de noite ou ao romper da manhã. Chegavam lá a umas tantas. Partiam daqui, passavam ao pé do Sobral de São Miguel, ao lado de Unhais da Serra, Tortosendo... Ai, Jesus, credo! Para tão longe! Subir a serra ali nas - chamamos lá - Portas d'Égua. Suavam e suavam mesmo a valer. Mas se tropeçavam numa coisa qualquer e caía a cesta, meu amigo! Aconteceu com algumas. Quando chegavam à Covilhã, já tinham aquelas casas para fornecer. Ganhavam um tostãozito, coitadinhas. Para cá traziam roupas, cachenés - os lenços de cabeça antigos - e outras coisas mais. E havia também de Chãs d'Égua e da Malhada Chã. Ajuntavam-se no caminho e iam a cantar e tal. Era uma alegria. Eram mais amigos que agora. Agora são tão falsos... Até na escola são falsos uns para os outros. Era assim a vida.