“Comer e gritar por mais!”

Nas cozinhas, tinham uns caniços onde se secavam as castanhas para se irem pisar. Eram pisadas com uns tamancos brochados para ficar a castanha pilada. Branquinha, sem aquela casca por fora e sem a outra pele fininha. Saía a pele por fora e por dentro. Haviam uns cestos próprios para isso. Como agora esses canastrões que ainda usam para acartar as uvas. Canastrões de corra que fazem ali em Alcangosta. Eu ainda ajudei a crivar algumas. Gostava daquilo. Se fosse com a bota de pneu, nunca mais saíam. Mas eu, com uns tamancos com aquelas brochas, que faziam os ferreiros, ficavam ali branquinhas que era uma categoria! Andava a gente assim de roda nos cestos a peneirar e saía por os buracos. Tinham duas asas e eu andava lá dentro a escavar. Tinha que me agarrar a uma coisa qualquer para me segurar, senão os cestos andavam de roda. Às vezes, era às sacas delas. Era uma fartura para todo o ano. E cozidas... aquilo era comer e gritar por mais! Até eram doces. Ainda hoje, nesses restaurantes, usam doce de castanha e botam castanha pilada. Há sempre a vender nessas casas. Ali em Coimbra há lá muita castanha a vender quando é pelo Natal. Branquinhas que é uma lindeza.

A longal é mais doce que a outra. Uma que é assim sobre o comprido. Chamámos nós a castanha dos castanheiros longais. Até para comer crua, é muito melhor. A castanha, quanto mais brava fosse, mais gostosa era. Aquela graúda, crua, não é tão doce. É melhor para assar. Andam pelas ruas a vender-se lá nas cidades. É sempre castanha graúda, que vem lá do Norte, de Vinhais, daquelas terras de Bragança.