A festa da Igreja, que havia primeiro, não era a Senhora da Conceição. Não falavam lá em Senhora da Conceição. Era a festa do Santíssimo e do Sagrado Coração de Jesus. Até tinha uma bandeira, com a imagem do Coração de Jesus. Era paga pela Associação, porque a maior parte são associados dessa Irmandade. Eu também sou sócio. Eram obrigados até a levar as opas aos funerais, às festas e tudo. Agora não, é facultativo. Até mandaram fazer umas opas que já nem são bem do estilo das outras. As outras eram opa branca e cabeção azul. Agora mandaram fazer as opas encarnadas e o cabeção azul. E, contudo, está ligado à Senhora da Conceição, que não é encarnada. É azul. Depende das comissões e da fábrica da igreja. Eu ainda estive alguns anos à frente das festas. A Irmandade do Coração de Jesus pagava metade da despesa e a igreja outra metade. Agora começaram a dizer que era a festa da Senhora da Conceição. Mas a festa da Senhora da Conceição é no dia 8 de Dezembro, não é agora no Verão! Já está fora do estilo do dia que pertence. Fazem no terceiro domingo de Agosto. Mudaram por causa dos emigrantes. Os que vão para Lisboa, nessa altura, estão de férias. Até está bem mudado. Sempre vem mais gente. No Natal estava mais frio. Assim sempre é melhor.
Também faziam a festa de São Pedro. Nestas festas, há procissão, onde levam os santos. Primeiro, as mulheres levavam as fogaças para andarem em leilão. Agora já nem usam essas coisas. Levam umas garrafitas, uma coisa qualquer para o leilão. É tudo à pobre. No último ano que estive na comissão da igreja, a minha oferta valeu 20 contos em moeda antiga. E dei de boa vontade. Era despique. Dei 20 contos, embora custassem a dar. Era para ajudar a pagar a filarmónica. Vinha cá a Filarmónica de Vila Cova e um conjunto ali de Avô, o Dogma. Até foi um senhor chamado José Pacheco, que era o dono do Solar dos Pachecos, que deu comer gratuito ao pessoal do conjunto. Para a filarmónica, foi um restaurante da Ponte das Três Entradas que cá veio fornecer o almoço. Tudo correu bem. Foi no último ano que cá botaram fogo. Cento e tal dúzias de fogo foram aí botadas! Até tremia tudo! Era fogo, que era uma maravilha. Veio cá um fogueteiro especial. Agora, nunca mais botaram um foguete. Está proibido. Nessa altura, tratei dos bombeiros em Côja. Estavam de prevenção se houvesse uma coisa qualquer. Também fui a Arganil, ao posto da Guarda. Até tive que comprar uns selos fiscais à repartição de Finanças. Passei lá os papéis para tomar responsabilidade e deram-me o número do posto da Guarda. Se qualquer um se portasse mal ou quisesse intervir contra a festa, vinha logo cá uma brigada da Guarda Republicana para manter a ordem. Mas tudo correu bem. Daí para cá, não há fogo, não há nada. É só as brincadeiras e a filarmónica. Primeiro, era “fogueirada” com fartura. Quando a pessoa começava e vinha a regressar, aquilo era para aí fogo que até tremia tudo!
Quando eu era criança, andávamos a saltar por esses bocaditos pia baixo a apanhar as canas dos foguetes. Agora não é preciso, não há. Mas nessa altura era uma alegria:
- “Ei! Já agarrei tantos!”
- “Ei! Já apanhei tantos!”
Todos cá andaram, não era só eu. Era uma alegria. Era a maluquice de andar a apanhar muitas. Depois, estragávamo-las. Para que é que a gente queria aquilo? Era hábito da garotada. Só tinham medo era que algum caísse em cima da cabeça da gente. Às vezes, vinham espreitar, a ver se algum caía em cima da gente. Ele vinha lá com força alta. Apanhava na cabeça, ficava com a cabeça furada!