Os meus pais chamavam-se António Lopes e Maria da Encarnação. Eram agricultores. Trabalhavam aqui no Piódão de noite e de dia. Quando era do tempo da azeitona, o meu pai era o mestre do lagar. Era um lagar a vara, à moda antiga. Já está caído até.
O meu pai era pedreiro, também. Andava aí a fazer as casas. Uns era no carvão, mas o meu pai, como tinha aquela arte, empregava-se aí a fazer as paredes. Ajudava quem precisava. No Piódão e até iam para fora. Andaram em Malhada Chã, iam para Chãs d'Égua e chegaram a ir até São Jorge da Beira. Primeiro, era Cebola, mas agora é São Jorge. Onde havia dinheirinho tinham que ir à procura dele. Tinha que ser assim.
A minha mãe tratava dos animais - dos porcos, do gadito - e cultivava milho, batatas e feijão. Tínhamos também castanheiros para apanhar as castanhas. Tínhamos muitas oliveiras, que davam muita azeitona para moer. Quando o meu pai não estava, não podia fazer cá nada. Era assim que se vivia. Era a moda.
Assim que me casei, tomei conta da minha vida e eles, coitados, ficaram sozinhos. Mas a gente sempre ia olhando por eles. Tinha que ser assim mesmo.