“Aqueles despiques”

Comecei no rancho muito nova. Aí talvez aos 10, 9 por aí. Comecei muito nova e depois fui andando até ir para Lisboa.

A gente cantava muito por aí assim. Havia muitos bailes. Nesse tempo havia muitas farras. A gente em qualquer lado fazia um baile ou jogos de roda com uma flauta. Em qualquer lado fazia um baile porque havia muita rapariga. Agora não há nada.

Eram ranchos bonitos. Aquela farda que eu tenho agora até era a farda do Manjerico. Foi o último rancho, depois só ficou um. Só tenho a farda da minha neta, que eu tenho para recordação e levo para exposição. É um lenço, uma blusa branca com umas coisas de renda, uma saia preta com uma barra vermelha, a condizer com o aventalinho vermelho. Um saiote por baixo com renda. Era bonito.

Aquilo pelo Carnaval é que eram aqueles despiques. Havia um em cima e outro em baixo. Depois ficou só um.

“Ai que lindo que é o manjerico,
No canteiro da tua janela.
Tem cuidado ó minha menina,
Ai dá-lhe o sol e deves ter muita cautela.
A alegria já chegou,
À nossa terra natal.
Vem da terra carioca,
Vem beijar Portugal.
Ai que linda que é a Benfeita,
Num cantinho à beira da serra.
É a rainha das terras da Beira,
Ó i ó ai e a beleza que ela encerra.”

Quando foi o dia 7 de Maio que foi a festa da Torre, choveu tanto, tanto nesse dia. O que é a gente tínhamos duas fardas. Molhou-se uma e viéramos vestir outra. Mas nunca me esquece. A gente a receber os ranchos, íamos lá em baixo trazer os ranchos e trazíamos ali para a escola. Porque a chuva era tanta que eu sei lá. E a gente cantava:

“Venham vindo meus senhores,
E povo que nos rodeia,
E está sempre ao seu dispor,
A nossa pequena aldeia.
Ai que linda que é a Benfeita,
Encantadora pela simpatia,
Foste o berço de um grande poeta,
E professor doutor José Simões Dias.”

Fomos também a Coimbra. A muitos lados:

“Coimbra tão linda,
Vem ouvir cantar,
Vem ver à janela,
Um rancho a marchar.
Com lindas canções,
Das nossas aldeias,
Feitas aos serões com lindos refrões quando há lua cheia.
Vim da Lapa do Penedo até ao lindo Choupal,
Coimbra maravilhosa és um jardim sem igual,
Tu tens um quadro formoso pintado em linda cores,
De onde figuram cores negras, as capas dos teus doutores.”