A catequista Lucinda

A catequese também aprendi com umas senhoras da aldeia. Naquele tempo, eu não podia ir à igreja. Então, a minha mãe falou com a catequista e disse-lhe se ela me podia ensinar num dia, que não estava em casa e eu tinha que cuidar dos meus irmãos. Às vezes, ela ensinava-me só a mim. Outras vezes, quando a minha mãe podia estar em casa com os meninos, ia eu com as outras meninas. Ainda hoje me lembro da minha catequista, nunca me esquece. Chamava-se Lucinda. Era tão minha amiga! Se agora ela fosse viva, eu deixaria de comer as coisas para lhas dar, só por o carinho dela, por a amizade! Ela ia rezar à igreja quando o padre que, na altura, estava na aldeia, ia comer. Também morreu conforme santo aquele senhor padre. Estava sempre, sempre a rezar ao altar. Então, ela dava o catecismo àquela que soubesse mais e dizia-nos:

- “Olha, tomai que eu vou agora à igreja! O senhor padre agora está a comer e eu vou lá pôr água nas flores.”

Ainda era nova quando morreu. Nunca me esqueço. Parece que ainda a estou hoje a ver. Ganhou a morte. Tomou banho, lavou-se, vestiu a roupa interior, calçou as meias... Só depois unicamente lhe vestiram o vestido e puseram-lhe um lenço na cabeça. Ela tinha véu, mas não o quis. Disse que, para a mortalha dela, queria um lenço na cabeça. E levou um lenço. Parece que ainda estou a ver. Era muito boa!