As procissões

Antigamente, as festas eram como agora. O padroeiro é o Sagrado Coração de Jesus. É esse andor que eu enfeito e enquanto puder não o deixo. Já há muitos anos, parece que dos 12 anos, mais ou menos. A festa costuma ser no Verão e, quando é das procissões, são muitos andores. É muito bonito. Põe-se lá os santinhos, a Nossa Senhora, o Sagrado Coração de Jesus e muitos que há na aldeia. Então, juntámo-nos todas e a gente arranja-os em conjunto. Ainda este ano arranjámos flores todas naturais e já se põe na hora. Mas antigamente demorava mais tempo. Tinha que se começar antes, aos domingos, e as flores eram de papel. Então, compravam folhas de papel de várias cores e era assim: a gente pegava no papel, punha-o certinho, pegava numa agulha e com linhas, ficava uma flor. Depois, com a mesma agulha, enfiava a linha no andor e assim púnhamos as flores em toda a volta. Mas isso dava muito trabalho! Este ano já não deu trabalho nenhum. Eram muitos andores, mas estava tudo na rua, já tudo em ordem. Depois rapazes e senhores, aqueles que podem, cada um vai pegar, já está tudo destinado. Este ano não foi preciso eu me ralar nem andar pelas portas, pelas casas, a dizer:

- Olha, queres fazer isto? Queres ajudar a levar o andor?

De quatro rapazes de uma casa, apareceu logo um:

- “Olhe, quem leva o andor do Sagrado Coração de Jesus sou eu e os meus três irmãos.”

Se Deus não ajuda a gente! Em Deus querendo, tudo se faz, tudo aparece! E Nosso Senhor tem-me ajudando tanto na minha vida... Então, eu nem merecia tanto. Sou tão feliz!

Também me lembro da Procissão das Ladainhas. Antigamente iam ao Chãs d'Égua. Depois o senhor padre cantava e a gente respondia. Então, é fácil. O senhor padre dizia assim:

- “Santa Maria!” - e nomeava aqueles nomes dos santos que estavam no livro.

Depois a gente cantava:

- “Ora pro nobis!” - agora já se diz «Rogai por nós», mas antigamente era «Ora pro nobis». Foi no tempo em que a missa era em latim. Umas coisas percebia, mas eu já andava tão habituada que não me fazia diferença. Já respondia a tudo. E as pessoas também se começaram a habituar e depois já sabiam o latim. Não era eu sozinha que respondia. Diz-se tantas vezes, sempre ficava alguma coisa na cabeça. Mas ainda bem que mudaram para português, porque aquelas coisas em latim custava a perceber. A gente lá ia indo, mas algumas coisas não as percebia.