Ainda andei na floresta a trabalhar. Depois fui para o Ribatejo. Fui para lá ainda novo. Íamos em Setembro, mais ou menos 27 de Setembro que a gente ia. Ganhávamos 150 escudos por mês. Aquilo é que era escravidão, 150 escudos por mês até Fevereiro. De Fevereiro em diante era 250 e depois vínhamos em Junho, mais ou menos a 27 de Junho é que vínhamos. Na verdade era um trabalho duro. Os do primeiro ano chamavam russos, moços ou russos. Éramos uns criados dos outros mais velhos. Em vez de nos ajudarem, de nos encaminhar. Não. Nós tínhamos que nos levantar de noite e ir buscar água e lenha.
A água era tirada de um balde de um poço fundo. E a água no poço quanto mais alta está, melhor se lhe chega. Aquilo eram uns poços fundos e se estivesse mais alta já melhor se lhe chegava. Íamos lá buscar um barril de madeira e aquilo pesava, depois de cheio de água. Levava-se para onde se andava a trabalhar, nas vinhas. Mas tínhamos que ir buscar a água e a lenha para se fazer as papas antes de se entrar ao serviço. E depois pegar na enxada e ir fazer o trabalho com os outros. Então andei um ano na Quinta do Alvito, andei outro ano na Quinta do Campo e nos Casais da Marmeleira, tudo ali naquela zona do Carregado, Alenquer. E depois andei na Quinta da Granja. Portanto andei três anos lá. Aí ao domingo já íamos à missa. Já tínhamos uns colchõezinhos. Nos outros lados era cesteiras. Era tudo em cima de umas cesteiras que juntávamos e onde a gente dormia. A comida era dar-nos 30 quilos de farinha, 2 litros e meio de azeite e 5 litros de feijão ou grão. Mas o feijão ou grão lá guardava e mandava era cá para os meus pais.