Havia aqui o senhor Francisco que era meu tio, irmão do meu pai, que era o médico aqui da serra. Ele ia até Ceiroco, à Covanca e tudo. Vinham-no chamar. Uma pessoa tinha o seu mal e ele ia, mandava ir buscar remédios, mas tudo muita coisa à base de ervas. E ficava ali a encaminhar, a acompanhar o doente durante uns dias. Não o abandonava para ver a evolução. Francisco barbeiro foi um homem que percebia bastante de medicina. Ele estudou livros e depois plantas. As plantas faziam bem. Por exemplo para tirar uma infecção. Uma pessoa apanhava uma espetadela de um prego de uma coisa qualquer, mandava ir arranjar umas tantas ervas fazer, chamavam, um cozimento. Cozimento era como quem faz um chá, depois banhar com aquelas águas, mas além de outro remédio. Ele foi um grande homem que aqui viveu, porque era um homem que se dedicava mesmo à Medicina. E o senhor doutor Vasco de Campos, de Avô, disse que todos os pedidos de remédios que o senhor Francisco pedisse podiam aviar na farmácia que ele se responsabilizava, não era preciso ele ver.
Uma vez, na igreja, fui com a navalha, para tirar em volta aquela anilhazinha que segura a mola da vela. Estava cheia de cera e eu fui para tirar, porque depois não enroscava. Então aquilo escapou de repente, escapou e feriu-me. Depois ao outro dia um tio meu veio-me levar para eu acartar esterco. Tinha chovido muito. Isto de Inverno tinha o esterco por baixo e estava todo molhado. E o esterco tem um azoto, que aquilo queima e infectou-me a mão. A mão pôs-se toda inchada, a criar e depois fui lá e disse-me:
- “Diz à tua mãe que vá arranjar chais, verbasco e alfavaca de cobra, que coza isto bem. Que faça um cozimento como deve ser e ponha uma bacia limpa, uma bacia que não ande lá a servir outras coisas, nem gorduras nem nada. Banhe bem e depois põe aquelas ervas, põe em água conforme possas aguentar e depois cuidado. Enrolam aquilo e põem novamente.”
Passado uns dias aquilo rebentou pareceu que eram burras de pipa que deitavam a infecção. Às vezes fazia assim o coser. Ainda uma vez um rapaz estava ao pé de mim, atirou uma pedra e fez-lhe um golpe na mão. Foi ao meu primo António e coseu-lhe aquilo a sangue frio.
A minha mãe deu uma queda. Foi ao mato e estava muito vento. Traziam grandes molhos de mato, o vento empurrou-os, ela caiu e aleijou-se numa perna. Depois andava o meu tio Francisco barbeiro a curá-la, mas ela, coitadita, mal da perna. Na altura curou, mas mais tarde ela teve uma trombose e foi-lhe amputada a perna. Agora já mais tarde. Quem sabe se lá ficou aquilo no osso lá ficou já amassado ou assim.
Ele também vacinava os miúdos. Aquilo era uma espécie de vacina, com um aparo. Fazia uma ranhura no braço e depois punha um líquido. Era ele que vacinava as crianças. As pessoas às vezes ficavam até com cicatrizes nos braços.
A minha tia também era a parteira. Quando nascia uma crinaça ela é que ia assistir. A pessoa quando via que estava já naquelas horas de aflição, iam chamar a tia Maria Silva. Ela vinha, dava-lhe assistência, ajudava-os, lavava a criança, preparava a mãe e depois preparava os fatos. Depois fazia o comer para o marido. O marido ia para o campo e ela fazia depois o comer.
Ela tanto cuidava dos miúdos, lavava a roupa, fazia tudo, tudo gratuitamente. As pessoas depois lá lhe davam alguma coisa. Voluntariamente davam. Valeu muito essa mulher. Maria Silva, parteira. Tem lá o nome na casa, é à capela de São Pedro. Agora foi o neto que a arranjou. Era uma casa baixita, era dos meus avós. Elas eram três irmãs, três Marias. A minha mãe Maria dos Anjos, ela Maria Silva e a outra Maria da Nazaré. Eram três irmãs, três Marias. Eram três e irmãos eram sete. E acho que morreu um em pequeno acho que eram oito.