“Alqueire e meio de milho para dar broa”

Havia as debulhas. Quando eram as debulhas do milho a gente juntava-se.

- “Ai vai-me ajudar a debulhar.”

Eram pilhas grandes. Depois secava-se no outeiro, naqueles estendais. Tinham até numas barracazinhas tipo uma arca. O milho andava aí uns três, quatro dias ao sol. Depois são as debulhas. Uns andam com umas estacas a malhar, com as pessoas a debulhar. Às vezes, davam uns figos ou um copinho de aguardente ou de vinho às pessoas, a quem queria.

Os moinhos era para moer o grão e moíam o centeio também. Os moinhos, quer dizer, havia aí uns 13 moinhos a moer, 13 ou 14 a moer de noite e de dia. Porque as pessoas, cada uma tinha uma certa parte nesse moinho, por exemplo, tinham um dia ou uma noite. Eu não tinha na altura moinho. A minha mãe tinha, mas nós somos muitos irmãos. E houve um senhor que depois foi para ali, comprou em Vinhó e eu comprei-lhe uma parte do moinho. Ele tinha parece-me que era uma noite. Umas vezes era uma noite, outras vezes era o dia. Era de oito em oito dias. Na altura dei-lhe 1 conto e 100, era muito dinheiro na altura. Comprei-lhe essa parte, mas eu era um mês que andava para ganhar 1 conto de reis.

A minha mãe vinha muitas vezes para o moinho. Ia comprar um alqueirezinho de milho, vinha aqui moê-lo muita vez. Havia pessoas que cediam aí aos 100 alqueires de milho, havia muitos a 40, 50, 60. E quando a minha mãe vinha moer mas elevava-se-lhe o moinho? Ela ia-se deitar, chegava de manhã julgava que ele tinha moído qualquer coisa, mas juntava-se folhado na gradezinha e depois já não ia água suficiente. Ela tinha que cozer por semana aí alqueire e meio de milho para dar broa, mas já não podia cozer nesse dia. Lá pedia a uma pessoa que deixasse moer porque depois precisava. Ia-se pedir uma broa emprestada. A pessoa emprestava a broa, quando cozesse dava-se-lhe a broa, era assim. Havia muita entreajuda.

Do grão era a farinha e depois cozia-se no forno, porque raramente se comprava um pão de trigo. Só se comia um trigo uma vez por festa. Um trigo ou um papo seco. De maneira que era broa, pão de milho. Quando vinha alguém de Lisboa que trazia um papo seco:

- “Ai traz-me um papo seco.”

Era uma alegria para a gente.

As senhoras também só comiam uma galinha quando tinham os bebés. Aí é que se matava uma galinha, fora disso não.

Havia um forno também comunitário em que a pessoa, por exemplo, à segunda-feira chegava lá e ia pôr lá um ramo. Ia lá na segunda-feira cozia, mas geralmente coziam três pessoas. O forno levava aí umas 40 broas coziam sempre aí umas três pessoas. Depois tinham sempre os miúdos para dizer:

- “Olha vai dizer à fulana que amasse.”

Iam amassar na mesma altura. Éramos sempre muito obedientes. Mandavam-nos dar um recado e a gente ia logo:

- “Olhe a minha mãe disse que amassasse.”

E depois, pronto, na altura cada um ia lá pôr um molho de lenha. A lenha na altura era difícil, agora está aí a lenha, mas antes tinha-se que ir buscar longe. Não havia fogões, gastava-se a lenha toda. Se às vezes chovia havia pessoas que a tinham arrecadado e outros não tinham mas emprestavam-lhes:

- “Olhe empreste-me um molho de lenha que eu afinal quero cozer e a minha molhou-se.”

Pronto. Depois fazia-se a bôla. Às vezes, estavam os miúdos e faziam-lhes logo uma bôla. Quer dizer esmagavam, chamavam a bôla. Se ela não chegava, roubava-se um bocado a cada miúdo. Eu, às vezes, estava lá.

Para conhecer as broas punham um belisco, um buraco, dois beliscos ou dois buracos. Um belisco punham por cima apertavam um bocadinho, ficava um belisco. Depois outros eram um buraco, outros eram dois, por exemplo, quando coziam três pessoas. Quando era quatro às vezes já tinham que pôr três buracozinhos. Já sabiam que a de um buraco, geralmente, era do que cuidava do forno. Havia um homem que cuidava do forno.

Quando as mulheres cujos maridos andavam, por exemplo, em Lisboa não tinham, chamavam, pediam a um homem para lá ir cuidar do forno. Ia lá, depois faziam entre todas uma bora, cada uma punha uma mão cheia de massa. Uma broa grande. Ao meu pai às vezes pediam-lhe, que ele ajeitava-se muito bem. Depois davam-lhe uma broa, uma broa grande. Às vezes até acontecia que uma era branca e outra era amarela, mas não fazia mal era massa na mesma.