Antes não havia um palmo de terra que não fosse cultivado, era tudo, tudo cultivado. Num ano era numa barroca, outro ano noutra, outro ano noutra. Vinha-se cavar, depois vinha-se enleirar, porque enleirar dá muito trabalho. A terra é lavrada e então tem que se empalhar com o mato ou caruma para que não esbarroque. Nós até temos por hábito dizer “quem bebe, deve comer porque senão esbarroca”. Todos os anos se cavava, se cortava a giesta, depois mexia-se com um enxadão e enchia-se a terra. Depois queimava-se aquela lenha e aquela cinza é que era o adubo.
Semeava-se o centeio. Esse centeio depois era malhado. Quando era no princípio de Julho estava maduro e era malhado na eira. A gente punha um monte de centeio, íamos buscar os molhos e depois escrevia-se numa pedra de xisto “Dia 21”, por exemplo, “malha César Pacheco” era o meu pai. “Dia 22 malha fulano”. E depois as pessoas ajudavam-se umas às outras. Era tudo comunitário. Por exemplo, um rapazinho vai ajudar a 1000 escudos à hora. Não dá, não se tira rendimento para pagar oito horas. São 8 contos e depois ainda se lhe dá bebida e uma pequena refeição. Antes ajudavam. Na enleira e na cava eu recordo que, por exemplo, os meus pais e os meus tios nunca se enganaram nos trocos, porque nunca foi preciso dinheiro. Era ajuda por ajuda e era assim que se podia cultivar alguma coisa, se não fosse assim, era mau. Também tínhamos gado.Pronto, iam ajudar. Aquilo era troca por troca. As pessoas eram pobres, mas muito alegres e comunicavam muito. As pessoas agora tentam resolver por seus próprios meios, individualmente, e antes era mais comunitário, era importante.