“Havia muito respeitinho”

Ai eu gostava muito de namorar. Eu pensava assim: ora se daqui a amanhã, por exemplo, eu quisesse pedir em namoro uma rapariga, ver se eu era aceitável, se eu tinha aceitação se não tinha. E de facto até em Lisboa pedi namoro. Depois namorei aqui, mas dantes eram namoros, em que havia muito respeitinho.

Depois casei. Sou casado. A minha mulher até ainda era minha segunda prima. Eu levava um fato preto e ela levava um vestido azul. Eu não gosto nada do preto, mas pronto na altura usavam assim. Só o vesti o dia do casamento e depois vesti o dia em que faleceu o meu pai. Nunca mais o vesti, até o dei a um rapaz para o usar. Não gosto de preto. Quando faleceu a minha mãe comprei três t-shirts, tenho-as lá. Usei-as um tempo. A minha mãe precisa lá é de muitas orações e eu tenho-lhas feito. Ficou bem entregue nisso.

A festa era o almoço. Era em casa dos pais. Íamos à Igreja, com os padrinhos. E depois era em casa dos pais da noiva é que era sempre um almoço, um banquete. As pessoas tinham cabras, matavam uma cabra, depois faziam o arroz-doce, coscoréis, as tigeladas, pão-de-ló e isso. Na altura ainda era com um pauzinho, não havia batedeiras eléctricas, porque ainda não havia electricidade.

Tenho quatro filhos e a minha mulher agora está lá ao pé deles. Porque na verdade aqui quanto a saúde estamos mal. Estamos mal porque estamos longe. Tenho dois filhos que vivem no Cacém, na rua São João de Deus. Um filho e uma filha. E todos os outros estão solteiros, estão em Lisboa, na rua do Olival.