As professoras eram amigas. Davam-se bem com as pessoas porque também estavam aqui tanto tempo. E as pessoas também eram amigas delas. Ninguém as tratava mal. Por acaso até eram boas pessoas.
Havia muitas crianças, enquanto eu era nova, que andavam na escola. O que é naquele tempo as professoras não era como agora. Eram regentes. Esteve cá uma senhora que era do Baixo Alentejo. Casou cá. Mas vinham, às vezes, quando começavam as aulas e só iam no fim das aulas, quando fechassem as escolas. Eu andei pouco tempo na escola, que também já não me dava muito tempo para isso. Nem obrigavam a gente, a gente ia se queria. Também já tinha que tomar conta do meu irmão. Fiz a primeira classe e depois para fazer a segunda classe foi uma professora que esteve cá. Andei lá três meses para tirar a segunda classe, que era para lhe fazer companhia quando fossem fazer as passagens. Tínhamos que ir a Pomares passar de classe. Depois foi-se embora e eu também já não fui mais para a escola. O meu irmão ainda fez a quarta classe, mas eu já não fiz. Fiquei só com a segunda.
A escola era lá em cima, num salão numa casa. Ainda andei lá nas casas velhas. Ainda lá dei entrada onde agora é o Centro de Dia. Onde está o largo. Ali é que era a escola antiga. Ainda lá entrei na escola. Era onde tinha sido um seminário, noutro tempo. O professor era aquele que está lá numa estátua no largo, o Cónego Nogueira. Mas eu já não sou do tempo dele. Depois passou para lá da Casa do Povo, do posto médico. E depois ainda fui lá para cima para aquela que agora ardeu. Ainda me lembra irmos daqui com o crucifixo, o dia em que ela abriu. Fomos lá, os alunos todos, com o crucifixo em procissão. Lembro-me tão bem. Parece que estou a ver a gente a ir todos em procissão pelo caminho acima. Mas era muita malta. Havia muita gente, naquela altura. Agora não há nem um naquela escola. Andam ali na Ponte os miúdos. Agora têm que ir para ali. E foi assim a minha vida.