O azeite era feito num lagar que está aqui em baixo, que ardeu também. Até já estava caído. Mas também ardeu ao fundo da ribeira. Cada um tinha o seu. A igreja também tinha um olival. Agora não têm nada. Não há azeite. Ardeu tudo. Já fez 21 anos, que foi o primeiro incêndio. E agora foi há três anos o outro que acabou com isto. Foi dia 16 de Setembro que ardeu. Lembro-me desse dia. E bem. O fogo chegou aqui em cima. Aquilo tudo por aí abaixo. Era quanto a vista alcançava. Só ficou um bocadito, que este ano também ardeu, um bocadito de pinhal aqui à frente, que os bombeiros livraram, para não vir para o povo. Senão ia povo e ia tudo.
No primeiro incêndio estivemos cá. Agora no último incêndio é que ficou cá só a malta mais nova. Vieram buscar a gente de idade para Côja. Ardeu só um bocadinho de uma casa. A gente não estava cá, estava lá para baixo. Estava uma casita caída e lá veio cair qualquer coisita de lume e ainda se lá pegou fogo também. A gente só veio depois quando isto acalmou. Quando a gente chegou aqui e viu assim tudo queimadinho... Quando apareci lá adiante a primeira coisa foi olhar cá para a casa a ver se ainda cá estava ou não. Foi um bocado complicado. Depois os meus familiares telefonavam assim:
- “A gente vai-te buscar.”
- Ai deixa-me estar que estou aqui e estou cá bem.
Por acaso fui para casa do meu cunhado. Eles levaram as pessoas para um pavilhão lá para Côja, mas o meu marido tem lá uma irmã e a gente foi para casa dela. Estive bem, graças a Deus, não me faltou nada. A gente quando chegou aqui sentiu um vazio de ver tudo queimado. Tudo, tudo. Vá lá, ficou o povo. Já não foi nada mau.