O Casamento

Casei há 51 anos. Foi em 57. Não fiz festa o ano passado. A filha queria mas eu não quis. Ela queria chamar as tias todas e eu disse assim:

- Ah! Não quero.

A gente já está velho para essas coisas. A gente sempre se deu bem, para que é que agora há-de andar com coisas? Graças a Deus tenho um casamento feliz. Nem todos o podem dizer.

Lembro-me do dia do meu casamento. Foi cá na igreja do Piódão. E o almoço cá em casa, que era o costume. Não iam comer fora. Nem cá havia restaurantes. Cada um fazia a festinha em casa conforme as posses. Não me lembro bem o que se comeu nesse dia. Matavam uma cabra ou uma ovelha e faziam arroz-doce, coscoréis, pão-de-ló, assim aquelas coisas.

Não havia vestidos de noiva. Era uma saia e uma blusa que eu levava vestido. A blusa era branca e a saia era azul. Azul escura, pregueadinha. Feitas à mão. Faziam cá. E um xaile de merino. Ainda o tenho. Ainda a minha filha foi a um casamento, há dois anos, de uma afilhada dela e levou o xaile. Eu não queria e ela:

- “Ai, tenho de levar o xaile. Eu tenho de levar...”

Lá levou o xaile, pronto. Ela já queria levá-lo ao casamento do meu sobrinho, que também é afilhado dela. E ela disse para lho levar, mas eu disse que me esqueci. Disse ela:

- “Oh mãe, o xaile?”

- Ai. Esqueci-me.

Mas eu não me esqueci. Eu é que não quis levar. Agora ao outro levou-o.