Lembro-me da casa dos meus pais. Era a casa onde moro agora. Só que era toda de madeira. E por acaso até era muito bonita. A gente agora é que já a mandou arranjar que a madeira já estava muito velha. Estava muito velha mesmo, pois já foi feita em 1926. Praticamente era como está agora. Só que o chão era madeira e por cima também, trabalhadinha tudo à mão, a toda a volta. As janelas eram daquelas antigas de correr para cima, e com umas portas também de madeira por dentro, todas trabalhadinhas. Ainda era bonita a casa. Por acaso eu até gostava mais dela do que o que gosto agora. Mas estava velha. A gente uma vez vinha a descer do sótão enfiou-se uma perna na escada, fiquei lá com a perna entalada porque a madeira já estava toda velhinha. Agora há uns nove ou dez anos é que a gente a mandou arranjar. As paredes é a mesma coisa. Mandou deitar tudo abaixo e fizemos por dentro, mais ou menos, do género que ela era. Só que agora as paredes por meio são em tijolo e já ficaram estas divisões mais pequenas. Já ocupa mais. Era madeira de cima a baixo e depois tinha umas ripinhas a atravessar e era tudo rebocadinho. Era tudo forrado de baixo para cima e de cima para baixo. Em baixo não tínhamos animais. Só o porco numa loja e a adega na outra. Os animais, as cabras, estavam nas fazendas, lá por fora. Eu ia sempre dormir no andar em baixo. Havia em cima um quartito, mas poucas vezes lá dormi. O quarto dos meus pais era onde agora é a salita. E era o sótão, em cima. O telhado era telha. Depois é que também apodreceu tudo, teve que ser tudo tirado para pôr a laje. A casa não tinha chaminés, nem nada para o fumo. Havia um caniço, chamavam o caniço. Era um bocado de madeira com umas ripas, onde punham as castanhas lá em cima a secar e as chouriças, ali penduradas na cozinha. Era assim a vida cá.