“Graças a Deus tive uns bons pais”

O meu pai chamava-se António Lopes José. Era do Piódão. A minha mãe era Maria da Anunciação. Era do Soito da Ruiva. Veio para cá viver com 9 anos ou o que foi. Foi criada com os padrinhos. Ficou sem os pais nova, por isso dos pais da minha mãe não sei nada. Nem dos do meu pai. Sei que o meu avô, do meu pai, se chamava António, Manuel António. Não conheci os avós, nem de um lado, nem do outro, por isso não conheço a história deles. O meu pai era agricultor. Cultivar terra era o trabalho dele. Também andou a fazer um carvãozito das torgas que arrancavam do mato, para fazerem um dinheirito, porque não havia reformas, não havia nada nesses tempos. Se não ganhassem alguma coisita, não tinham nada. Era o milho e as batatitas que cultivavam, mais nada. Era assim a vida deles. O meu pai era um bom homem e um pai bom. Graças a Deus tive uns bons pais. Ele não batia muitas vezes. A minha mãe, às vezes, batia mais que o meu pai. Mas isso é natural. As mães andam sempre mais com a mão no ar que os pais.

Tenho um só irmão. Dávamo-nos muito bem quando novos. Ainda agora nos damos bem, graças a Deus. Eu tenho mais seis anos do que ele. Quase que o ajudei a criar. Naquele tempo não havia creche, não havia nada. Os mais velhos ajudavam a criar os mais novos. Eu é que andava já com ele às costas na rua. Depois ele foi cedo para Lisboa, assim que acabou a quarta classe. Acho que já foi lá fazer 13 anos. Eu fui também daí por pouco tempo que me casei. Ele até costuma dizer que eu fui segunda mãe dele. Ele lá vinha todas as semanas a minha casa, ao dia da folga. Depois fez a tropa e eu é que lhe tratava da roupa também. Mas sempre nos demos muito bem.