No Alentejo, a trabalhar e a cantar

A primeira coisa que fiz foi a trabalhar no Alentejo. Nas vindimas a apanhar azeitona, apanhar vides e, às vezes, até tínhamos que cavar também. Vinham ao Piódão uns senhores, lá para umas quintas ricas e então a gente ia trabalhar.

Já não me lembra bem as cantigas mas a gente cantávamos. Umas vezes tínhamos que ir a pé, outras vezes íamos num tractor de carga para trás, ou numa camioneta. Então, a gente gostava muito de cantar e íamos sempre a cantar.

O lagar eram homens que lá andavam, mas andei lá também a lavá-lo. O da azeitona andei lá a lavá-lo mais outra rapariga. Mas aquilo já era mais à moderna. Já não era como era aqui. Era assim tudo mais ou menos em azulejo e assim.

Ganhava muito pouquinho. Era só 1 conto e tal os nove meses e davam 2 e meio de azeite e 3 alqueires de farinha para se a gente governar. Parece que também nos davam 5 litros de feijão. A gente tinha que se governar com aquilo até eles darem para outra vez. Íamos numa camioneta de carga, as primeiras vezes. Depois já era numa camioneta de carreira.

Depois vim para o Piódão outra vez e cá me casei. Cá fiquei também a cultivar aí uns bocaditos. O meu marido dantes andou nas estradas. Depois foi para os Correios e a gente por cá ficou. Se ele cá não arranja trabalho era capaz de também termos ido para outro lado. Mas depois ficáramos cá. Hoje já posso pouco mas ainda vou fazendo o que posso.