“Para o Alentejo e pronto”

Eu os meus irmãos ajudávamos na fazenda. Depois, assim que a gente pôde, íamos para a escola.

Depois da escola fomos para o Alentejo. Andávamos lá nove meses a trabalhar e depois vínhamos outra vez para o Piódão. Começávamos nas vindimas e andávamos na azeitona lá também, a apanhar vides. Depois nas ceifas e nas mondas.

Na minha infância andava aí a trabalhar no campo e depois andava a ajudar as pessoas. Umas vezes no cultivo das terras, a acartar pedras aí para essas casas, às costas. Íamos buscar carregos aqui a Pomares ou a Vide. Ganhávamos 10 escudos quando cá chegávamos com o que fosse.

Uma vez fôramos a Pomares e então era açúcar que trazíamos. Uma saca de 60 quilos dividíamo-la. Eram uns 30 quilos para cada uma. Então, começou a nevar e a gente as rodilhitas que lá levávamos tivemos que as pôr por cima do açúcar senão derretia-se-nos pelas costas abaixo.

A gente dançava e divertia-se umas com as outras e com os rapazes também. Não era como agora. Era de outra maneira antigamente. Até costumavam dançar aqui em baixo na minha casa. Ainda era do meu avô, naquela altura. Quando estava a chover, era uma sala ampla, então às vezes também lá dançávamos.

Nos tempos livres às vezes faz a gente renda ou assim qualquer coisa para se entreter, uns panos e assim. A renda foi a Liberta que me ensinou. Íamos para as cabras as duas e então aprendi com ela. Ainda novitas. Hoje, às vezes, faço uns panos e dou às minhas filhas e outros tenho-os por aí.