“Trabalho muito ruim”

Também fiz os correios, durante dois anos, quando vim do Porto. Ficava em Pomares, de lá vinha para o Piódão e do Piódão para Pomares. Os correios eram um trabalho muito ruim. Por exemplo, quando os meus irmãos fizeram, saíam do Piódão e voltavam. Mas eu, quando tomei conta dele, tinha de sair de Pomares. Então, tinha lá uma casa. Saía às nove horas e estava no Piódão ao meio-dia. Depois saía às três horas e chegava a Pomares às seis horas. E, na altura dos meus pais, não era o dia inteiro. Eu dava mais voltas do que eles davam. Em três horas tinha que fazer tudo a pé, que ainda não havia estradas. Passava por outras terras. Eram 11 malas que eu tinha que levar. Levava a Chãs d'Égua, ao Sobral Magro, Porto Silvado, Vale de Torno, Soito da Ruiva, Sobral Gordo, Mourísia e Agroal. A pé. No Soito da Ruiva, Sobral Gordo e Mourísia vinham-nas trazer a Sobral Magro e eu era quem entregava. E de Vale de Torno e Porto Silvado vinham-mas trazer ao caminho que depois eu levava. Eu tinha de fazer em três horas, porque a camioneta do correio de Pomares saía às seis da tarde. Ia apanhar o comboio a Coimbra. Por isso tinha de sair naquele horário. Por dia ganhava 23 escudos e quinhentos. Mas o pessoal a trabalhar nos campos ganhava 20 escudos. Só ganhava mais 3 escudos e 50.