O cobrador das quinquilharias

Uma altura, ao pé de Penafiel, era a primeira feira que a gente lá fazia e ainda não estávamos práticos naquilo, como se passavam as coisas naquela terra. Aparece lá um bando à porrada uns com os outros e começaram a tombar para cima da banca. Nós tínhamos muita quinquilharia, muitas miudezas. Então, quando fomos fazer uns negociozitos, faltavam lá coisas. Foi naquele reboliço, que os gajos fizeram, meteram coisas na algibeira, porque a quinquilharia era boa. Depois contáramos isso em Penafiel, aos Peixotos, que eram os que nos vendiam a revenda:

- “Vocês ainda não estão práticos nisso. Eu vou-lhes indicar um homem bom para isso.”

Foi-nos indicar um cobrador, um homem bom para isso. Era um membro das Serradelas, da rua dos gatunos. Era filho do guarda-rios, o Avelino, um gajo grande. E assim foi. Fôramos fazer a feira de São Simão lá em Penafiel. Daí por um bocado, eu estava lá na venda, vejo-o a botar as mãos a um miúdo. Bota-lhe as mãos, o gajo levava na algibeira umas medalhazitas, um isqueiro, uma flautazita. Fê-lo pôr aquilo tudo lá. Depois fomos lá agradecer ao Peixoto:

- Já temos homem!

Depois contratáramos o Avelino para ficar de cobrador e ficou ainda lá muito tempo. Mas depois foi fazer o exame para a polícia e ficáramos sem cobrador. Mas também deixámos de vender quinquilharias e já vendíamos mais pelas portas. Pegávamos no carro e íamos para Cinfães, para Baião, íamos por aquelas terras. Corremos aquela zona toda de Penafiel, Marco, Mesão Frio, Lousada, Paredes, Paços de Ferreira e Freamunde. Íamos a Felgueiras, Alto da Lixa e Amarante. Essas feiras não perdoávamos, era sempre. Ali de Guimarães para a frente, para Fafe, era só as de ano.