“Tudo de enxada”

Quando sai da escola, fiquei um tempozito na aldeia. Depois fui para o Ribatejo. Fui lá fazer 15 anos. Saí daqui no dia 1 de Outubro e fiz lá os 15 anos, no dia 16 de Outubro. Lá era difícil. Tinha de ir numa contrata. Vinha à aldeia um encarregado, trazia uma carta de contrata e contratava o pessoal, já com o que a gente ia comer e aquilo tudo. Nós íamos por nove meses. Durante esses meses, a alimentação era 30 quilos de farinha, litro e meio de azeite e 1 quilo de feijão. Para todo o mês nós tínhamos de nos orientar com aquela comida. Dormir era em cima de umas telhas. Uma coisa feita de palhas. A gente lá dormia em cima daquilo. E lá cumpri os nove meses. O ordenado eram 900 escudos, ao fim dos nove meses. Eram 100 escudos por mês. O trabalho era tudo no campo. Era tudo de enxada. Agora há máquinas mas, nessa altura, era feito tudo com enxada. Eram vinhas e trigo. Depois tinha os animais, bois, vacas. Tinha uma grande quantidade de vacas para o leite, e tinha os bois para abanar as terras. Eles é que lavravam a terra para o centeio e para o trigo. A enterrar o trigo, já éramos nós com as enxadas.