Roubava cerejas

Eu brincava com o Fernando, meu vizinho, que já morreu, e com outro rapaz . Andáramos na escola os três. O padre António, que está na Moura, também andou connosco na escola, mas já foi mais tarde, porque ele tem mais três anos do que eu. Ele já foi tarde para a escola. Nós juntávamo-nos todos e éramos muito amigos. Éramos todos vizinhos, mas depois eles foram para o seminário. Ia-se para lá porque se aprendia mais facilmente. Num colégio gastavam muito dinheiro e os pais não tinham hipóteses para isso. Então mandavam-nos para os seminários, porque era mais em conta. Depois andavam lá um tempo e lá mudavam de ideias. Foram muitos do Piódão e só um é que cantou missa. De resto, saiu tudo. Nunca foram para padres. Um já estava prestes para isso, mas depois lá se arrependeu e foi a Barcelona tirar o curso de doutor de Letras. Um deles foi para África e agora está para Lisboa. Veio à aldeia e fomos almoçar juntos. Passámos em Chãs d'Égua, onde andámos na escola, e disse:

- “Ó Chico, quando éramos novos, roubáramos aqui muita cereja.”

Lá numa bouça, num lugar a chegar ao Chãs d'Égua. Depois vinham lá os homens à pedrada para não deixar escapar a fruta. E lá fôramos naquela conversa da escola.