Virtudes e embaraços de uma aldeia turística

Por um lado, a aldeia está melhor agora, porque já tem tudo o que é preciso. Antigamente não tinha estradas. Foi a Comissão de Melhoramentos que deu início ao projecto para a estrada vir do alto de Chãs d'Égua para o Piódão, até ao largo. Com alguma coisa que iam angariando, construíram também aquelas casas acima da aldeia e puseram, em baixo, a piscina (que agora está alagada com entulho). Dantes a Comissão fez muito, mas agora, ultimamente, pouco tem feito. A Junta de Freguesia também já tem mais poderes, já tem mais verbas para fazer as coisas e a Comissão de Melhoramentos começou a afastar-se um bocadinho. Mas já toda a gente tem água em casa, onde fazer as necessidades e electricidade. E, noutro tempo, não havia luz, era com a lanterna na mão.

Por causa da estrada, vieram os turistas. Para uns foi bom, para outros foi mau. Porque primeiro estava toda a gente sossegada. As pessoas conhecem-se de uma ponta à outra da aldeia e todos por os nomes. As chaves estavam sempre nas portas e tudo corria bem. E agora já não pode ser assim, porque vêm uns de boa intenção mas, às vezes, outros com má. Por enquanto, ainda se não deu muito. Mas, teve de ser, tirámos as chaves das portas, porque algumas não chegaram a aparecer mais.

O Piódão é uma aldeia como as outras. Eu nunca cheguei a saber assim de onde é que partiu esse nome, mas sei que começou, em baixo, aí a 3 quilómetros. Depois vieram vindo e rompendo as propriedades e, mais tarde, é que se fixaram onde hoje está a aldeia. É um sítio importante para mim. Então, se a gente se lembrar do tempo que passou em Lisboa... Mas, se estamos aqui habituados, a gente já topa que as pessoas que vêm visitar dão valor e os da aldeia já não ligam. Por isso, os visitantes são importantes. Se não fosse o turismo, era uma aldeia morta como outras aí da região.