“Era assim que sobreviviam”

A maior parte da população do Piódão trabalha na agricultura. Antigamente cultivavam mais o milho. Agora é mais a batata, o feijão, as hortaliças, as alfaces e as cebolas. O milho já cultivam pouco, porque não cozem nos fornos como coziam naquele tempo. Há dois ou três que ainda cultivam milho para fazer a broa. Mas os outros já não, porque vêm os padeiros trazer o pão e agora já poucos o cozem. Dantes alimentávamo-nos do milho, das batatas, dos feijões e do centeio. De sete em sete anos cortavam as giestas desses giestais que se vêem nas encostas, queimavam aquilo e adubavam a terra. Era no mês de Setembro que queimavam aquela lenha, que servia depois de adubo para o centeio. Até havia pessoas que tinham mais centeio que tinham de milho. Depois, o que faziam era andar com sacas do milho às costas e com cestas das uvas à cabeça por esses mundos fora. E era assim que sobreviviam. Senão, o que vinha de fora não chegava. Naquele tempo, se queriam ir buscar as coisas às feiras, tinham que carregar tudo às costas a 14 quilómetros e mais. A mais próxima era em Vide, mas ainda são 16 quilómetros do Piódão para lá. Andavam esses quilómetros todos com as sacas do feijão e do sal às costas para as trazer. E, às vezes, traziam logo peixe para 15 dias, um mês. Era mais o carapau e a sardinha, mas não tinham arcas frigoríficas para as congelarem. Ainda me recordo que, às vezes, punham-nas a secar penduradas nessas varas de chapéus. Secavam a sardinha assim, pelo cheiro do fumo. E depois comiam-na para não se estragar.

Outros trabalham na construção civil e no comércio. Houve também a produção de aguardente. Tínhamos aí uma árvore chamada o medronheiro. Antigamente toda a gente apanhava aquele produto e fazia aguardente. Ao fim do mês de Setembro começavam a apanhar. Durante o Inverno estava a fermentar e depois, em Janeiro e Fevereiro, faziam aquela aguardente. Mas agora já poucos utilizam aquilo. Há uma os novos não querem e os velhos que o apanhavam já não vão apanhar. E, como arderam os medronheiros, queimaram-se todos, o fruto agora ainda é pouco. Já não fazem aguardente dele. O mel também está mais a desaparecer. Já são só uns três ou quatro que estão a produzir. Mas estão mais a desaparecer, porque os novos não se dedicam às coisas e os velhos morrem... O mel desaparece.