“Não tinha tempo quase para brincar”

Comecei a trabalhar na agricultura e muito cedo! Aos 7 anos já tinha que andar a trabalhar com a minha mãe e com o meu pai. Quando era pequenino, andávamos na escola e, nas horas vagas, nos recreios e tudo, ainda tínhamos que trabalhar para à noite termos o que era preciso em casa. Antes de ir para a escola, íamos ao mato e à lenha. Depois de sair, tínhamos que tratar das cabras e das ovelhas.

Eu quase não tinha tempo para brincar. Era para trabalhar. Mas, às vezes, juntavam-se os rapazes e as raparigas no largo ao pé da Capela de São Pedro. Aí tínhamos as nossas brincadeiras. Diziam que iam à pina-malha ou ao coque e isto e aquilo. Batiam lá num fardo tantas vezes e a gente, durante aquele tempo, tinha que se esconder. E depois iam à procura. Aquele que encontrasse é que vinha para o castigo depois! Ao coque pediam um cordão e um saltava, os outros iam e apanhavam-no. Corriam uns atrás dos outros, uns escondiam-se, os outros iam à procura deles e assim andavam naquilo! Havia também a chona. Com uma covazita e depois com um pau, batiam na bola, ou num feijão, ou naquilo que tinham, a ver qual é que enfiava no buraco. Eram umas brincadeiras simples.

Naquele tempo havia casais que tinham quatro, cinco, seis, sete e oito filhos. Havia muitas crianças. Quando iam à lenha e ao mato por os oiteiros, juntavam-se rapazes e raparigas. Cada um trazia o seu molho e divertiam-se por o caminho.