“A gente tinha respeito”

No meu tempo, eram duas escolas. Uma masculina e outra feminina. A masculina era onde está a Junta. A das meninas, hoje, é casa de habitação, mas foi onde foi a nossa escola. E todas cheias. Agora é que já não há ninguém. Havia um professor e uma professora todo o ano, porque vinham os da freguesia, das Luadas e aqui havia muita gente.

Tinha 7 anos quando entrei na escola. Naquele tempo, era assim. E só saí aos 13, quando fiz o exame da quarta classe, porque estive dois anos sem professora. Quando fiz a segunda classe, ela foi-se embora. Saiu daqui. Depois, veio uma professora que era aqui de Arezede, ao pé de Coimbra. Ensinava-nos a fazer malhas, a fazer trabalhinhos bonitos. Ensinava aquelas brincadeiras, que eu já nem me lembro. Na escola, dançávamos e cantávamos. Foi boa professora. Ensinava muito bem. E sabia muito de malhas e de rendas. Quando era preciso, castigava. Mas não dava grandes castigos. Era assim uns castigos pequenos. Ou batia-nos com a régua ou com uma vara ou assim. Era uma vara que ela nos dava na cabeça. Se fosse preciso, mandava-me dar nos outros, mas eu nunca dava. Tinha pena de lhes dar com a régua. Mas, naquele tempo, então não batiam na escola, quando a gente não sabia? Naquele tempo, era assim. Não é como agora. Agora, viram-se os alunos contra os professores. A gente tinha respeito. Não é como agora. Havia respeito por tudo e por todos.

Eu gostava de andar na escola. Gostava de aprender e de brincar. As duas coisas. Gostava de tudo. Só não gostava tanto de ditado. Não sei porquê. Dava erros. Tinha mais dificuldade, certamente. Mas a tabuada sabia muito bem. Eu estudei muito! No meu tempo, a quarta classe era puxada. Tínhamos de saber as províncias, os rios, os pesos e medidas, um bocadinho do corpo humano... Estudávamos de tudo. Aritmética, Geografia, tínhamos os mapas na escola e tínhamos um bocadinho de lição destas coisas todas.

Quando era na quarta classe, o professor combinava mais a professora e juntavam-se os rapazes com as raparigas, porque na quarta classe era mais difícil. Depois, íamos fazer o exame a Arganil. Não se fazia aqui. Eu fiz terceira e quarta. No meu tempo, já houve aquele exame de terceira classe. Até tenho dois diplomas, um da quarta, outro da terceira. E depois quando era nessas alturas, perto dos exames, juntavam. Ele juntava os rapazes, a professora juntava as raparigas e depois em conjunto juntavam-se. Também íamos em conjunto para Arganil fazer o exame. Não havia brincadeiras entre rapazes e raparigas. Só nestas alturas é que se juntavam. De resto, cada um tinha os seus e cada um fazia a sua vida e tratava de seus alunos.

Tirei a quarta classe e já foi muito bom, naquele tempo. A minha irmã também. O meu irmão tirou o curso de Agronomia na Escola Agrícola em Coimbra. Eu e a minha irmã não fomos estudar, porque não quisemos. Eu não quis ir mais. Não tinha ideia. Cada um tem o seu destino. Arrumei logo os livros e a minha irmã também. O meu pai queria-nos pôr a estudar às duas, queria que a gente fôssemos estudar, mas eu não quis ir e a minha irmã também não foi. Foi só o meu irmão.