“Fundou-se a Comissão para ouvir a voz da malta”

Antigamente, não havia aqui luz, nem gás, nem telefone. Nada! O telefone, tivéramos que fazer. Foi a Comissão, salvo erro, em 1952. Fundou-se a Comissão por isso. Para ver se faziam força, se faziam ouvir a voz da malta. O Estado dava uma verba para se fazerem essas coisas. A Câmara tinha que dar uns tantos por cento. Não sei quanto era: 25%, 20% ou qualquer coisa assim. Nós fizemos a Comissão para entre a gente se fintar uma quota todos os meses e arranjarmos mais umas festas, mais um dinheiro e mais uns amigos e pessoas que quisessem dar donativos para repormos essa parte que pertencia à Câmara. Foi aí que realmente começou o progresso, não só daqui do Piódão como de todas essas aldeias aqui à volta. A malta, entre si, arranjava dinheiro para pôr a parte da Câmara e a Câmara aí já não podia dizer que não. Tinha que assinar os papéis.

Foi daí que veio o telefone. Foi uma luta grande. Tiveram de escrever uma carta ao Salazar. Logo aí deu resultado. Vieram cá pôr o telefone, pagando a gente essas percentagens. Mais tarde, trabalhou-se para a electricidade. E assim sucessivamente, para termos estes melhoramentos.

Andou-se sempre a lutar para se arranjar estrada. Saíam verbas todos os anos. A floresta, depois, fez as estradas lá por cima. Foram todas feitas pelos Serviços Florestais. Para algumas destas aqui para as povoações, tiravam verba da central e faziam ramais. Outras, tivéramos nós que pagar. Tentámos fazer uma aqui por nossa conta e ainda fizemos até ali adiante a meio do caminho. Ainda vieram lá carregar alguma resina e trazer alguma madeira. Depois, começou-se a aproximar mais da floresta. Veio até à pousada. Parou ali muito tempo. Então abríramos aquele ramal em cima dos Penedos Altos. Mais tarde, também por conta da Comissão, fizéramos aquele ramal para poder vir as camionetas. Antes, as camionetas grandes, de excursão, não vinham. Paravam onde é a pousada. Foi influência da malta, que gostava da terra e fazia excursões. Queriam cá vir com as camionetas e não podiam. Ainda esteve ali uns anos. Entrementes, avançaram, também já com a Comissão metida nisso, com esta estrada de cima até Chãs d'Égua. Não era para ir para Chãs d'Égua. Era para ir por cima, pela floresta, por aí fora até às Pedras Lavradas, naquela que vai para a Covilhã, mas nunca foi concluída. Saiu dinheiro suficiente para isso, só que eles foram tirando os guardas, os engenheiros e, com apoio lá dos ministérios, as verbas para fazerem estraditas. A do Tojo foi uma dessas. Foi feita por conta da floresta. Mas conseguiu-se arranjar uma estradita para cada terra. Agora, a nossa está muito estragada, porque entregaram a um empreiteiro e ele deixou ficar isto pendurado. É fazer só o alcatroamento, mas mesmo isso ainda demora tempo.

Depois, veio uma ordem do Governo para reflorestar essa serra. Veio a floresta. Quando veio a floresta para aqui, foi uma escravidão. Era de sol a sol e os dias que não iam, não pagavam, mesmo que se aleijassem. A minha mulher aleijou-se lá e nem lhe pagaram. Não ia trabalhar, não pagavam. De qualquer das maneiras, na altura, mesmo assim, valeu. Vieram postos de trabalho. A malta foi para lá trabalhar e ia ganhar algum dinheirito. Mas houve aí uma guerra, porque alguns ainda queriam os terrenos mas a floresta também os queria. Houve aí umas disputas, nessa altura.