“O tempo era quase um relógio”

O tempo era quase um relógio. A gente sabia que em tal tempo chovia. Às vezes vinham umas trovoadas, entremeadas, mas o tempo normal a gente conhecia. No princípio de Setembro, chovia. Depois, ia chovendo. Agora, isto está trocado. O Verão prolonga-se por aí fora. Mas naquele tempo a gente sabia que era assim. No Inverno, a neve estava aí aos meses. Não se podia andar muito à vontade. Pelo menos, estava aos oito dias. No mês de Novembro, às vezes, já vinha neve, mas em Dezembro vinha a chuva ou havia um gelo que não se podia, se fosse tempo limpo. Até se punham aí nos cômoros, fusos - chamavam-lhe fusos - que é o gelo. Conforme ia correndo a água, ia gelando. Ia-se pondo como nas grutas. A gente tinha que se pôr a pau. Até na rua escorregava com facilidade. Parecia vidro. Só havia as três hipóteses: chover, aquele gelo terrível ou neve. Os meses de Dezembro e Janeiro eram assim.