“Aquele tempo Deus queira que ele cá não volte”

Continuei a trabalhar na terra depois de casada. Que remédio. Era do que a gente se governava naquele tempo. Era milho, feijão e batata. Era desde quando acordava. Tinha que me erguer logo de manhã. A gente andava por nossa conta. Tanto fazia ir mais cedo ou mais tarde. Quando era que andavam a ajudar para as outras pessoas é que era de sol a sol. Não era só por horas como agora, era de sol a sol que se trabalhava. Íamos ajudar quando calhava. Quando podiam. Havia quem cultivava terras que não eram deles, isso era terras de renda. Naquele tempo havia gente que era assim. Ficavam com tanto e davam o que pertencia ao dono.

Trazia tudo às costas e à cabeça. Ah, pois! Desde lá em baixo, até ao pé do Torno. Era mais de uma hora de lá para aqui e ainda nem havia estrada. Era por baixo pelo caminho. A gente chegava ali a um ponto e pousava, depois tornava a tomar o carreiro. Vinha assim naquilo. Era difícil, naquele tempo. Aquele tempo Deus queira que ele cá não volte!