A passagem para Lisboa

Quando vou para Lisboa, lá me empreguei numa obra, como servente dos pedreiros. Eu não percebia nada daquilo, mas lá ia fazendo qualquer coisa. Umas vezes, era a endireitar os pregos para aplicar novamente nas madeiras. Outras vezes, era a acartar areia, a fazer limpezas. O primeiro ordenado que ganhei em Lisboa foram 11 escudos por dia. Depois fui para a CUF - hoje é a Lisnave - nos estaleiros, ao pé do Jardim da Rocha. Fui para lá, ganhava 17 escudos. E assim que atingi os 18 anos passaram para 26 escudos por dia. Na CUF, fazia limpeza nos navios, a raspar. Chamavam os miúdos da pica, eram aqueles rapazitos mais novinhos. Em vez de andarem lá nos barcos, a meter escoras aos barcos, onde eles iam para as docas para limpar os fundos e pintar, a gente andava por dentro a fazer limpezas, no veio onde trabalha a hélice. Tirávamos aquilo e tínhamos de nos meter ali dentro e limpar, raspar a ferrugem e pintar. Depois fui para a oficina. O dono da oficina tinha uns barcos de pesca a carvão. Metiam aqueles fornos cheios de carvão, e iam para o mar. Tinham umas caldeiras e iam metendo carvão para fazer vapor, aquilo dava 200 e não sei quantos graus para fazer vapor, para fazer andar a hélice, e para a máquina trabalhar. Trabalhei lá uns anos. Mais tarde, estive no comércio.