“É de Cebola?”

Eu ouvi falar do João Brandão e do Viriato, que também andou nessas serras. Dizem que nos Chãs d'Égua, quando andaram a construir a capelinha, que apareceu lá um anel do João Brandão. Diziam que ele se ia lá esconder e conseguiu. Eles, um dia, para o deitarem abaixo, acho que se foram lá esconder na torre. Quando ele ia a passar, parece que o dominaram ali assim. A do Viriato é mais antiga. Era o homem que dominava também tudo, nas serras. Também se falava do assassino da Inês de Castro. Era Diogo Lopes Pacheco. Mas não era eu. Não sei se ainda podia pertencer à família. Os Pachecos estão espalhados aí por todo o lado. Vieram de Cebola. É curioso que eu lembro-me de um tio meu, irmão do meu pai, lá em Lisboa, estava um dia a conversar com umas pessoas, a falar das serras. E ele disse:

- “O meu pai era de Cebola!”

E as pessoas ficaram:

- “É de Cebola?”

Pois era de Cebola. Ele era de carne e osso como a gente mas a terra é que se chamava Cebola. Tanto que eles depois mudaram. Era Cebola e hoje é S. Jorge da Beira. Ali onde iam buscar o minério, às Minas da Panasqueira. Mas ali tiveram uma actividade dos diabos, no tempo das guerras. Dali saiu o volfrâmio para a Alemanha, para a França, para a Espanha, para todo o lado. Ia para lá gente a pé, a “butes”, não é muito longe. Para Arganil ainda é mais longe. Não chega a 40 quilómetros. Eram 30 e poucos quilómetros a “butes”. Tem é que se subir serra e descer serra. Mas ali é um horizonte a perder de vista, para o lado da Beira Baixa, para o lado do Zêzere. Avista-se lá ao longe, onde é a barragem de Santa Luzia. É um horizonte a perder de vista para todo o lado.